sou um bolsista-estagiário e caberá a mim alimentar este blog de nosso ex-professor, que deve estar viajando longe ou pescando numa roça de Tupaciguara.
Três anos depois de sua aposentadoria,
convém postar aqui um perfil dele, muito bem feito, diga-se.
O homenageado gostou, concordou, emocionou-se (sem chorar em público, todavia).
A autora - ou representante legal da turma -, a aluna citada nos créditos, não sabe que o texto está sendo reproduzido aqui. Se ela, por acaso, discordar da publicação disso que já foi lido em público, basta-lhe preencher um longo formulário, pegar uns carimbos e assinaturas, etc. e tal.
Assinado: João (por enquanto, sem sobrenome)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Saudação de
homenagem ao Prof. Dr. Bento Itamar Borges,
Professor
homenageado pela turma de formandos
em Filosofia da UFU
(março de 2008)
Gravura de Rembrandt (vamos procurar a versão sem cor, com detalhes diferentes desta) |
A nossa homenagem deveria ser bem
humorada. Deveria ser capaz de tratar do nosso homenageado com um humor
inteligente, sutil, daqueles de pessoas que, como ele, conseguem ser geniais em
cada conversa despretensiosa. O professor Bento é o “boa praça” da filosofia
mundial. Temos dúvidas se encontraríamos na história da filosofia alguém tão
engraçado. Preferimos, então, ser espertos na redação da nossa homenagem e não
arriscar nenhuma piada, porque o homenageado certamente pensaria: eu faria
melhor.
Apesar de todo o seu talento
humorístico, ele nos ensinou que filosofia é coisa séria e que, entretanto,
pode ser tratada de modo bem humorado. Ele nos ensinou piadas filosóficas, nos
mostrou que frases despretensiosas podem ter conteúdo filosófico e que
histórias das nossas vidas podem ser tratadas com filosofia. Ele nos atentou
que o mundo está cheio de filosofia, para o olhar dos filósofos.
Mas não apenas olhar. O mundo não é
só para olhar, mas para transformar. Não foi Marx quem nos ensinou isso de
fato. Foi o professor Bento. É ele que nós víamos compondo a mesa da ADUFU, ele
que nos convidava para ir a Brasília fazer um protesto. Foi dele que ouvimos,
dentro do curso de filosofia, pela primeira vez a palavra “capital”. Ele
personifica uma esquerda inteligente, de pensamento profundo, com o acúmulo de
uma sabedoria pessoal que nos parece inatingível. Como o professor Bento é
capaz de falar com tanta tranqüilidade de Nick Cave and The Bad Seeds, de
Beatles, de cinema, de Descartes, de filosofia da ciência a partir de um
joguinho que ele inventou, de teorias biológicas da TPM, tudo isso em forma de
histórias e piadas, sem perder o fio da meada, de modo seguro e perfeitamente
correto e ainda por cima por meio de uma charge em alemão? Ele fala de
filosofia com o conforto de quem fala da própria infância.
Quando entramos na faculdade,
pensávamos: talvez quando chegarmos a ser pós-doutores poderemos arriscar
alguma coisa que se aproxime das sagacidades do professor Bento. Claro que hoje sabemos que sua
perspicácia é rara, e nem todos nós somos capazes de ter sua visão tão
filosófica (e bem humorada) do mundo que nos cerca. Talvez o filósofo
brasileiro deva ser como o professor Bento, inteligente, consciente dos
problemas do país, mas sem perder o bom humor. Talvez nosso homenageado diria
que os filósofos não devem ser cópias mal acabadas do europeu chato, porque
acabam copiando apenas a chatice. De nossa parte, já seria uma conquista se
conseguíssemos, depois de anos de estudo e esforço, bater um papo em que
pudéssemos ter algo a lhe dizer. O professor Bento é o que queremos ser quando
crescermos.
(Oradora: Solange Barbalho Mesquita)