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terça-feira, 5 de julho de 2016

NOVA DIETA: TRÊS ANOS SEM PÓ DE GIZ

Caros leitores deste blog do PIPE,

sou um bolsista-estagiário e caberá a mim alimentar este blog de nosso ex-professor, que deve estar viajando longe ou pescando numa roça de Tupaciguara.

Três anos depois de sua aposentadoria,
convém postar aqui um perfil dele, muito bem feito, diga-se.

O homenageado gostou, concordou, emocionou-se (sem chorar em público, todavia).

A autora - ou representante legal da turma -, a aluna citada nos créditos, não sabe que o texto está sendo reproduzido aqui. Se ela, por acaso, discordar da publicação disso que já foi lido em público, basta-lhe preencher um longo formulário, pegar uns carimbos e assinaturas, etc. e tal.

Assinado: João (por enquanto, sem sobrenome)

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Saudação de homenagem ao Prof. Dr. Bento Itamar Borges,
Professor homenageado pela turma de formandos
em Filosofia da UFU
(março de 2008)

Gravura de Rembrandt
(vamos procurar a versão sem cor, com detalhes diferentes desta)
 

            A nossa homenagem deveria ser bem humorada. Deveria ser capaz de tratar do nosso homenageado com um humor inteligente, sutil, daqueles de pessoas que, como ele, conseguem ser geniais em cada conversa despretensiosa. O professor Bento é o “boa praça” da filosofia mundial. Temos dúvidas se encontraríamos na história da filosofia alguém tão engraçado. Preferimos, então, ser espertos na redação da nossa homenagem e não arriscar nenhuma piada, porque o homenageado certamente pensaria: eu faria melhor.

            Apesar de todo o seu talento humorístico, ele nos ensinou que filosofia é coisa séria e que, entretanto, pode ser tratada de modo bem humorado. Ele nos ensinou piadas filosóficas, nos mostrou que frases despretensiosas podem ter conteúdo filosófico e que histórias das nossas vidas podem ser tratadas com filosofia. Ele nos atentou que o mundo está cheio de filosofia, para o olhar dos filósofos.

            Mas não apenas olhar. O mundo não é só para olhar, mas para transformar. Não foi Marx quem nos ensinou isso de fato. Foi o professor Bento. É ele que nós víamos compondo a mesa da ADUFU, ele que nos convidava para ir a Brasília fazer um protesto. Foi dele que ouvimos, dentro do curso de filosofia, pela primeira vez a palavra “capital”. Ele personifica uma esquerda inteligente, de pensamento profundo, com o acúmulo de uma sabedoria pessoal que nos parece inatingível. Como o professor Bento é capaz de falar com tanta tranqüilidade de Nick Cave and The Bad Seeds, de Beatles, de cinema, de Descartes, de filosofia da ciência a partir de um joguinho que ele inventou, de teorias biológicas da TPM, tudo isso em forma de histórias e piadas, sem perder o fio da meada, de modo seguro e perfeitamente correto e ainda por cima por meio de uma charge em alemão? Ele fala de filosofia com o conforto de quem fala da própria infância. 

            Quando entramos na faculdade, pensávamos: talvez quando chegarmos a ser pós-doutores poderemos arriscar alguma coisa que se aproxime das sagacidades do professor Bento.          Claro que hoje sabemos que sua perspicácia é rara, e nem todos nós somos capazes de ter sua visão tão filosófica (e bem humorada) do mundo que nos cerca. Talvez o filósofo brasileiro deva ser como o professor Bento, inteligente, consciente dos problemas do país, mas sem perder o bom humor. Talvez nosso homenageado diria que os filósofos não devem ser cópias mal acabadas do europeu chato, porque acabam copiando apenas a chatice. De nossa parte, já seria uma conquista se conseguíssemos, depois de anos de estudo e esforço, bater um papo em que pudéssemos ter algo a lhe dizer. O professor Bento é o que queremos ser quando crescermos.     

 

(Oradora: Solange Barbalho Mesquita)