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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Quando é bom ensinar

Da célebre sessão

"Cinqüenta anos de escola"


1. Uma boa cachaça, um pacote de carne de sol, uma rapadura. Isso foi o que ganhei após trabalhar duas semanas em um pequena faculdade. O pedido estava na mesa de meu chefe havia dois anos. Ninguém se dispusera a ir. Aí eu disse que iria, nas férias. Não haveria pro-labore, ou seja, nada de graninha extra. Mas e daí? Cadê aquela disposição para ajudar? Ainda mais no sofrido norte de Minas Gerais, nossa área de Sudene.

Pagaram o ônibus - umas oito horas rasgando o cerrado - e o hotel. Bom demais. E fiquei durante quinze dias animando o trabalho e a perspectiva de professores e alunos de diversas áreas em uma instituição de ensino superior de Montes Claros. Eu não sei se matei aula de geografia em meu tempo de garoto, mas esperava que houvesse um rio lá. Não há. Mas uma ferrovia, sim. E diversos jornais, uns quatro, pois, logo entendi, havia quatro ou mais tendências políticas. Compreensível, na terra onde nasceu Darcy Ribeiro e uma mulher valente, que armou uma rebelião naquele grande sertão.

O assunto era pesquisa, metodologia, monografia. Essas coisas úteis no momento em que uma instituição cria coragem para deixar de ser um colégião, como se dizia. E eu já era mestre, já havia escrito minha própria monografia e alguns artigos. E tinha dez anos de prática naqueles conteúdos e habilidades.

Fui muito bem recebido, com sorrisos e ouvidos atentos. E, no dia da despedida, levaram-me ao mercado antigo, onde ganhei de agrado aquelas iguarias especiais. A carne de sol ali é chamada de "carne de dois pelos"; a cachaça excelente ainda existe e tem o delicioso nome "Inhantes" - tomar uma talagada inhantes do almoço, por exemplo. E os presentes foram reunidos em uma simpática cesta feita de palha de milho.

Creio que ensinei coisas relevantes para os participantes daquele curso de atualização. E tive uma rara experiência de ensinar para quem quer aprender. Não fui ganhar dinheiro, mas me senti muito realizado e satisfeito em colaborar. E nunca me esquecerei dos agrados e de algumas histórias naquele querido canto de Minas Gerais.


Montes Claros, 1990.