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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ESCOLAS & CADEIAS

Este blog não apóia o senso-comum, que se repete na frase "Precisamos construir escolas, em vez de cadeias." Isso é uma besteira; o Estado precisa construir cadeias e escolas. E escolas dentro das cadeias.
Neste prédio, em Corumbaíba, Goiás, o prefeito despachava no andar de cima e os presos ficavam trancados no térreo. Uma combinação de arquitetura colonial singela, muito comum no Brasil: cadeia & prefeitura. Quem vai do Sul para Caldas Novas pode conferir. Já foi restaurada e deve virar espaço de cultura, que encobre os documentos de barbárie, conforme expressão de Walter Benjamin.

Neste prédio, na pequena cidade francesa Les Bouchoux, atendem o prefeito e a professora. O prédio é prefeitura & escola. Vamos admitir: essas medidas razoáveis, na terra do racionalismo, deram bons resultados. A educação deve ter a preferência. E ficar pertinho de administradores que cuidem da qualidade do ensino público, gratuito, de qualidade.

Um exercício: que tal inserir e inverter? Pensemos nas escolas que funcionam ou que deveriam funcionar dentro dos presídios. E pensemos também que as escolas não deveriam reproduzir as táticas de interrogatórios e reclusão, típicas das (piores) cadeias. Há muito conhecimento e muita experiência acumulada nesse campo, do ensino em presídios. Congressos são realizados para tratar dessas atividades, como parte de políticas públicas. E a pedagogia crítica e libertária também desenvolveu sinais de alerta contra a opressão e a dominação dentro do sistema escolar.

Dialética básica, na base do "tudo ao mesmo tempo agora" é assim: temos que melhorar a escola e humanizar as cadeias e, no embalo geral, a sociedade inteira poderá avançar. Boas escolas, boas cadeias. Mais escolas e mais cadeias. Pois todos nascem analfabetos e alguns seguem a inclinação para o mal ou tem lá seu minuto de bobeira. Escolas e cadeias custam caro. Mas e daí? Quem disse que o Estado deve dar lucro?

Nosso Ministro da Justiça disse há duas semanas que, se tivesse que ficar preso nessas cadeias imundas e sem espaço, ele preferiria morrer. Morrer, disse nosso ministro de Estado. Ele foi sincero e nós não podemos ser hipócritas. Os presidiários querem sair daquele inferno, querem viver depois. E seria bom que saíssem da cadeia alfabetizados e esclarecidos sobre como funciona a sociedade desigual e cruel. Ganhar a liberdade, com um diploma, uma profissão. Mudar de vida.

Por seu lado, a escola devia alertar mais as crianças e jovens sobre o valor da liberdade. E sobre o perigo de perder, na reclusão, um tempo precioso e até a esperança de dias melhores. Em outras tempos, em cidades pequenas, era comum visitarmos os presos aos domingos. Levávamos um agrado, umas leituras. E ouvíamos as histórias e os bons conselhos dos presos, arrependidos.

Enfim, consideremos esses dois absurdos: cadeias superlotadas e escolas com cadeiras vazias, ociosas. Sobram vagas nas universidades públicas. Em Uberlândia, a UFU melhorou nos últimos anos seus índices de evasão. Caímos para 6%, mas ainda é muito. Mais de 1200 alunos abandonaram os cursos da UFU em 2011. E essa lamentável debandada afeta principalmente as licenciaturas. E de novo, o círculo infernal: salários baixos, falta de professores, qualidade de ensino em queda, etc. Muitas lutas ainda.



Um lugar bonito assim não existe.
Jura?