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terça-feira, 25 de outubro de 2016

RELATÓRIO DE UM LONGO ESTÁGIO

O Professor Borges quer manter este blog - e não apenas na nuvem.

Com certo atraso, esse servidor público federal envia um relatório para prestar contas sobre essa misteriosa e boa preguiça. Pois muitos se perguntam: "como pode um aposentado aguentar sem fazer nada?"

Nosso professor aposentado e blogueiro renitente também se pergunta e se responde: "nada" não é bem essa coisa toda do dito "inativo"-- que xingamento burocrático!
Versão provisória, sem comentários, nem análise. Só as tabelas.
Versão parcial, que apresenta tão somente as leituras realizadas desde 2012 - o que não é pouco.

I - Livros lidos e curtidos, no último ano de docência do Prof. Dr. Borges:


Not only books
2012

- Contos instantâneos (Dr. Jorge Seventh Art)

- Estrela distante (Bolaño, chileno)

- Zazie no metrô (Raymond Queneau)

- A visão de Deus (Nicolau de ´Cusa)

-         Thomas Müntzer, teólogo da revolução (Ernst Bloch)

-         Como escrever (excertos dos Parerga e paralipomena) Schopenhauer

-         Quem matou Palomino Molero? (Vargas Llosa)

-         Relato de um certo oriente (Milton Hatoum)

-  A morte de Artemio Cruz, de Carlos Fuentes (lentamente, em español, genial – tipo que arrasou com o gênero romance pesado e criador)

 - Por parte de pai (Bartolomeu C. Queirós, lido no Caraça e em fotos)

-         Causos de Minas, de Olavo Romano
 
II - Livros realmente lidos no período do

dolce far niente, que pode se prolongar hasta perder de la vista:
 
2013
 
Outras ferramentas
 
-Tom Jones, vol. 1(chato, prolixo, afetado: larguei mão)
- Vale tudo, biografia do Tim Maia, by Nelson Mota
-Mulheres na guerra do Paraguai, de Hilda Agnes Hubner Flores
-Diálogos com Jorge L. Borges (filosofia)
 
2014
 
 
Seixos rolados
 
Viagem à Palestina (Bei Dao, Breyten Breytenbach e outros)
Meu Manifesto pela Terra (Mikhail Gorbatchev)
Circo dos cavaloes, Lourenço Diaféria, cronicas
Os ratos, de Dyonelio Machado (1935, Poa)
Trechos de: Pascal, Duns Scotto, Guilherme de Ockham
Poemas de Gabriela Mistral
O gracejo da graça, Kierkegaard, Edna Hong
Versôes 2, poemas do TAL
A man of reason, (Thomas Paine)
A morte de Ivan Illitch, Tolstoi
2015
Outros byproducts (ganz Frisch)
 
Confissões, Agostinho africano, filho de Mônica
A correspondência de Rimbaud (incl. Para Verlaine)
Dentro da noite veloz, Poemas de um Ferreira Gullar comunista, antes de 75 – (li mil  vezes o  poema “pôster”, de 1970)
Vermelho amargo, (Bartolomeu Campos de Queirós)
Hamsun no Brasil (Karl Erik Schollhammer, org)
La primera volta ao mundo (Elcano, Pigafetta e outros)
Um certo Lucas ( Cortázar)
Pessoas que passam pelos sonhos (Cadão Volpato – Tortoni, Bs Aires)
 Consolação a minha mãe Hélvia ( de Sêneca)
A vida é sonho (Calderón de la Barca)
Histórias abensonhadas (Mia Couto)
Varanda do Frangipani (Mia Couto)
Elegias de Duino (Rainer Maria Rilke)
Historias del Buen Dios (Rainer Maria  Rilke)
Pobreza e politica: os pobres urbanos do Brasil, 1870-1920 (June E. Hahner)
Olhos de cão azul (Gabo Marquez)
O Misterio na Estrada de Cintra (Eça e Ortigão)
Luz quartiada (de uma gringa da Chapada dos Veadeiros)
2016 (ongoing)
Lo siento, pero... fue casi un fairplay
 
Mariategui y su tempo (Armando Bazan)
Violência e trabalho no Brasil (MNDH, UFG)
Não somos feitos de arame rígido, de E. Tugendhat
O ministério do silêncio (hist. Do Sni), de C. Figueireo
Historia universal da infâmia (JL Borges, trad de José Bento)
The pearl (John Steinbeck)
Cinco lições sobre psicanálise (Freud)
O futuro de uma ilusão (Freud)
O malestar da civilização (Freud)
A poética do espaço (Bachelard)
Die wunderbare Jahren (Reiner Kunze) * lido e traduzido a lápis, in loco
Pensamentos (Pascal)
+++++++++++++++++++++++
 
"O que você está lendo?"
 
Durante muitos anos, sobretudo quando o professor lecionava métodos e técnicas de pesquisa, ele torcia para atender um telefonema do IBOPE, com a pergunta: "Que rádio você está ouvindo agora?" E de fato um dia aconteceu. Foi meio sem graça, pois não lhe foi possível espichar conversa. Todavia, confirmou sua confiança na abordagem das surveys (encuestas).
 
Pois bem, encerrando este adendo, por minha conta, pode-se acrescentar que esse leitor ultimamente onívoro também gostaria que a Folha de São Paulo no tempo do suplemento Folhetim lhe fizesse aquela pergunta sonhada por intelectuais uspeanos et caterva: "que livro você está lendo?"
 
Na falta da pergunta vinda de um jornalista de culturetes, esse docente folga em dizer que... Sim como é mesmo? Sim, ele está lendo agorinha mesmo o quente lançamento da editora Boitempo "Por que gritamos golpe?"
 
(A compra do livro teve um gostinho de revanche silenciosa. Em visita à capital paulista, o autor do presente relatório entrou na livraria Cultura, depois de ler no chão molhado do vão do MASP diversos "Fora Temer", e viu mil coisa compráveis e legíveis. Outras nem tanto. A banca até que estava equilibrada: para cada três livros com a cara do "Sergio Moura", três ou quatro coletâneas das esquerdas. Essa da Boitempo é uma das boas fontes para entendermos o golpe de 16. )
 
Com saudações de "um aposentado que não tem mais o que fazer" - salvo pela definição.
 

Espumas flutuantes do largo mar oceano
(travessia)
 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O INTERESSE DE PROFESSORAS E PROFESSORES: nossa homenagem à categoria dos que levam o conhecimento a sério



O estagiário João traz mais uma contribuição para este blog, pois, afinal precisa mostrar serviço e garantir sua bolsa de estudante profissional...

O professor Bento Borges foi um militante do movimento docente desde que começou a trabalhar na UFU, sobretudo. Sua ação foi mais intensa no coletivo no período em que participou de duas gestões na diretoria de sua seção sindical, a Adufu, parte do Andes-Sindicato Nacional. De 2003 a 2007, sobretudo, encarou algumas disputas acadêmicas e outras brigas feias, como esta: contra a onda do EaD, ensino à distância.

Além de debates em congressos e assembleias, o professor usou de seu recurso predileto, as charges. A maneira como o governo, com apoio do Banco do Brasil, por exemplo, incentivou a Universidade Aberta do Brasil, foi criticada, com bom humor também.

Marcando posição: o professor Borges via situações em que essa modalidade era (e é) adequada e funcional, inclusive para treinamento e atualização de professores que moram em lugares retirados dos centros universitários (isso se tornou mais claro quando ele viajou para o Jalapão, em 2010.)

Agora, vejam essa notícia, na revista Super Interessante, edição 350, de agosto de 2015, página 16:



"O FRACASSO E A REDENÇÃO DOS CURSOS ONLINE"

Quando surgiram os MOOCs (cursos online gratuitos, para as massas...), a esperança geral era de dariam acesso irrestrito à educação - incluindo para comunidades remotas nas regiões mais pobres do mundo. Mas logo se observou que os usuários só costumam completar 4% do curso em que se matriculam. Uma nova pesquisa, no entanto, mostra o perfil das pouquíssimas pessoas que assistem o curso até o final: são professores. De acordo com a pesquisa (*), a maior parte dos que se formam nos MOOCs tem um diploma universitário e dá aulas. Assim, funciona como aperfeiçoamento profissional. (Patrícia Bellini)

*fonte da pesquisa: HarvardX e MITx: two years of open online courses fall 2012-summer 2014, de Andrew Dean Ho.

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A charge no alto da página foi criada e desenvolvida pelo professor Bento Borges, em 2006, publicada em jornal da ADUFU (e agora na net, de graça, com o crédito do autor).

Assinado: João

terça-feira, 5 de julho de 2016

NOVA DIETA: TRÊS ANOS SEM PÓ DE GIZ

Caros leitores deste blog do PIPE,

sou um bolsista-estagiário e caberá a mim alimentar este blog de nosso ex-professor, que deve estar viajando longe ou pescando numa roça de Tupaciguara.

Três anos depois de sua aposentadoria,
convém postar aqui um perfil dele, muito bem feito, diga-se.

O homenageado gostou, concordou, emocionou-se (sem chorar em público, todavia).

A autora - ou representante legal da turma -, a aluna citada nos créditos, não sabe que o texto está sendo reproduzido aqui. Se ela, por acaso, discordar da publicação disso que já foi lido em público, basta-lhe preencher um longo formulário, pegar uns carimbos e assinaturas, etc. e tal.

Assinado: João (por enquanto, sem sobrenome)

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Saudação de homenagem ao Prof. Dr. Bento Itamar Borges,
Professor homenageado pela turma de formandos
em Filosofia da UFU
(março de 2008)

Gravura de Rembrandt
(vamos procurar a versão sem cor, com detalhes diferentes desta)
 

            A nossa homenagem deveria ser bem humorada. Deveria ser capaz de tratar do nosso homenageado com um humor inteligente, sutil, daqueles de pessoas que, como ele, conseguem ser geniais em cada conversa despretensiosa. O professor Bento é o “boa praça” da filosofia mundial. Temos dúvidas se encontraríamos na história da filosofia alguém tão engraçado. Preferimos, então, ser espertos na redação da nossa homenagem e não arriscar nenhuma piada, porque o homenageado certamente pensaria: eu faria melhor.

            Apesar de todo o seu talento humorístico, ele nos ensinou que filosofia é coisa séria e que, entretanto, pode ser tratada de modo bem humorado. Ele nos ensinou piadas filosóficas, nos mostrou que frases despretensiosas podem ter conteúdo filosófico e que histórias das nossas vidas podem ser tratadas com filosofia. Ele nos atentou que o mundo está cheio de filosofia, para o olhar dos filósofos.

            Mas não apenas olhar. O mundo não é só para olhar, mas para transformar. Não foi Marx quem nos ensinou isso de fato. Foi o professor Bento. É ele que nós víamos compondo a mesa da ADUFU, ele que nos convidava para ir a Brasília fazer um protesto. Foi dele que ouvimos, dentro do curso de filosofia, pela primeira vez a palavra “capital”. Ele personifica uma esquerda inteligente, de pensamento profundo, com o acúmulo de uma sabedoria pessoal que nos parece inatingível. Como o professor Bento é capaz de falar com tanta tranqüilidade de Nick Cave and The Bad Seeds, de Beatles, de cinema, de Descartes, de filosofia da ciência a partir de um joguinho que ele inventou, de teorias biológicas da TPM, tudo isso em forma de histórias e piadas, sem perder o fio da meada, de modo seguro e perfeitamente correto e ainda por cima por meio de uma charge em alemão? Ele fala de filosofia com o conforto de quem fala da própria infância. 

            Quando entramos na faculdade, pensávamos: talvez quando chegarmos a ser pós-doutores poderemos arriscar alguma coisa que se aproxime das sagacidades do professor Bento.          Claro que hoje sabemos que sua perspicácia é rara, e nem todos nós somos capazes de ter sua visão tão filosófica (e bem humorada) do mundo que nos cerca. Talvez o filósofo brasileiro deva ser como o professor Bento, inteligente, consciente dos problemas do país, mas sem perder o bom humor. Talvez nosso homenageado diria que os filósofos não devem ser cópias mal acabadas do europeu chato, porque acabam copiando apenas a chatice. De nossa parte, já seria uma conquista se conseguíssemos, depois de anos de estudo e esforço, bater um papo em que pudéssemos ter algo a lhe dizer. O professor Bento é o que queremos ser quando crescermos.     

 

(Oradora: Solange Barbalho Mesquita)