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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ESCOLAS & CADEIAS

Este blog não apóia o senso-comum, que se repete na frase "Precisamos construir escolas, em vez de cadeias." Isso é uma besteira; o Estado precisa construir cadeias e escolas. E escolas dentro das cadeias.
Neste prédio, em Corumbaíba, Goiás, o prefeito despachava no andar de cima e os presos ficavam trancados no térreo. Uma combinação de arquitetura colonial singela, muito comum no Brasil: cadeia & prefeitura. Quem vai do Sul para Caldas Novas pode conferir. Já foi restaurada e deve virar espaço de cultura, que encobre os documentos de barbárie, conforme expressão de Walter Benjamin.

Neste prédio, na pequena cidade francesa Les Bouchoux, atendem o prefeito e a professora. O prédio é prefeitura & escola. Vamos admitir: essas medidas razoáveis, na terra do racionalismo, deram bons resultados. A educação deve ter a preferência. E ficar pertinho de administradores que cuidem da qualidade do ensino público, gratuito, de qualidade.

Um exercício: que tal inserir e inverter? Pensemos nas escolas que funcionam ou que deveriam funcionar dentro dos presídios. E pensemos também que as escolas não deveriam reproduzir as táticas de interrogatórios e reclusão, típicas das (piores) cadeias. Há muito conhecimento e muita experiência acumulada nesse campo, do ensino em presídios. Congressos são realizados para tratar dessas atividades, como parte de políticas públicas. E a pedagogia crítica e libertária também desenvolveu sinais de alerta contra a opressão e a dominação dentro do sistema escolar.

Dialética básica, na base do "tudo ao mesmo tempo agora" é assim: temos que melhorar a escola e humanizar as cadeias e, no embalo geral, a sociedade inteira poderá avançar. Boas escolas, boas cadeias. Mais escolas e mais cadeias. Pois todos nascem analfabetos e alguns seguem a inclinação para o mal ou tem lá seu minuto de bobeira. Escolas e cadeias custam caro. Mas e daí? Quem disse que o Estado deve dar lucro?

Nosso Ministro da Justiça disse há duas semanas que, se tivesse que ficar preso nessas cadeias imundas e sem espaço, ele preferiria morrer. Morrer, disse nosso ministro de Estado. Ele foi sincero e nós não podemos ser hipócritas. Os presidiários querem sair daquele inferno, querem viver depois. E seria bom que saíssem da cadeia alfabetizados e esclarecidos sobre como funciona a sociedade desigual e cruel. Ganhar a liberdade, com um diploma, uma profissão. Mudar de vida.

Por seu lado, a escola devia alertar mais as crianças e jovens sobre o valor da liberdade. E sobre o perigo de perder, na reclusão, um tempo precioso e até a esperança de dias melhores. Em outras tempos, em cidades pequenas, era comum visitarmos os presos aos domingos. Levávamos um agrado, umas leituras. E ouvíamos as histórias e os bons conselhos dos presos, arrependidos.

Enfim, consideremos esses dois absurdos: cadeias superlotadas e escolas com cadeiras vazias, ociosas. Sobram vagas nas universidades públicas. Em Uberlândia, a UFU melhorou nos últimos anos seus índices de evasão. Caímos para 6%, mas ainda é muito. Mais de 1200 alunos abandonaram os cursos da UFU em 2011. E essa lamentável debandada afeta principalmente as licenciaturas. E de novo, o círculo infernal: salários baixos, falta de professores, qualidade de ensino em queda, etc. Muitas lutas ainda.



Um lugar bonito assim não existe.
Jura?
 

 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O QUE A GALINHA NOS DÁ

Seção infantilidades filosóficas

O QUE A GALINHA NOS DÁ? E A VAQUINHA?
(Arte by Itamar Rios, detalhe de charge - 2011, unauthorized)

A mãe de Rafael examinava o caderno de tarefas dele. E não gostou da avaliação da professora, que deu zero ou marcou com um grande xis de “errado”. Ora, disse a mãe, as respostas estão corretas! E eu vou lá discutir isso com a professora. E foi. No caminho, já pensava: Que absurdo! Que estereótipo! O Rafael respondeu certinho e isso não vai ficar assim.
A professora de Rafael caiu no golpe das velhas fórmulas, que repetiu sem pensar. Sem pensar que os meninos de hoje são muito espertos. E essa querida e respeitável alfabetizadora ainda deu azar, pois a mãe do Rafinha também era professora. E havia estudado a nova pedagogia crítica, a psicopedagogia e coisa e tal.
Na escola, com todo o respeito e com muito jeito, essa mãe contestou o exercício de completar. E podem apostar que haviam colado no caderno do garoto uma folha mimeografada a álcool, azul, com aquelas figuras de olhos grandes, tipo meio abestalhado. Para colorir. E decerto a vaca tinha um laço de fita no rabo e um sino no pescoço. E a galinha teria mãos e luvas e aquela cara de assustada. Estereótipo de massas.
Eis o que se pedia a Rafael e sua turminha de primeiras letras e números.
"Completem as frases:
a)    A vaca nos dá....
b)    A galinha nos dá...
Etc. "
Rafael, muito ativo, completou assim, respectivamente:
"a)...coice, chifrada.
b)...bicadas, unhadas."

E é claro que a mãe do Rafa empregou o velho e bom argumento da mais recente bio-ética: nós roubamos da vaca o leite que ela ajunta para sua cria. E nós tomamos da galinha os ovos que ela reúne para constituir uma enorme família (e não omeletes). Moral da história: temos que mudar o ponto de vista e evitar os eufemismos enganosos.


Atenção, pais e mães e professores e professoras. É importante avançarmos mais na formação desse aspecto, para nós e para alunos de todas as idades: respeito pelos animais. O Instituto Nina Rosa oferece materiais e campanhas direcionados à educação formal e informal. Diminuir o sofrimento dos animais não-humanos é uma das metas. Endereço abaixo:

http://www.institutoninarosa.org.br/

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Seção de Encerramento do Congresso: Questões organizativas

Professor Uilson vem aí.
Este blog surgiu com a disciplina PIPPE. E depois serviu por um semestre a nossa turma da Pedagogia. E agora vamos anotar aqui idéias, causos e ”memórias de um parteiro”, deste professor, que não é o Luis Carlos mas está prestes a parar de lecionar. “Eu vou parar. Eu vou parar. Eu vou parar de lecionááá...” (canção näif do ye-ye-ye en los sixties)
Ainda uma notícia, com ligeira alteração. Caras alunas da Pedagogia da UFU, é o Prof. Uilson quem vai continuar o trabalho da disciplina Filosofia. Eu cometi aquela gafe terrível de correr com a matéria, pensando que o programa fosse semestral. E é anual. Corri e cansei. O Prof. Uilson vai acertar se distribui os 40 pontos restantes ou se faz uma regra de três e espreme os 60 em 50, etc. Isso é entre vocês e ele.
Quanto ao programa, conteúdo, isso depende mais dele. Eu mesmo esgotei o assunto que pretendia. Se continuasse com a turma, ia ter que inventar – mascar palha seca, embora sempre sem embromation.  Mas ele não está cansado; está começando e cheio das idéias. Se eu puder sugerir algo – e de fato já o fiz – é “filosofia para crianças”. Pode ser útil às alunas, muitas das quais já trabalham em escolas infantis e instituições semelhantes. Eu mesmo nunca li textos dessa área, de linha norte-americana ou outra. Nunca li o livro Menos Prozac & mais Platão (ou seria “Menos melhoral infantil”?). E nem li, tipo assim “Filosofia dos Simpsons”. Vocês resolvam com o novo professor novo. Sei de um livro, com título sugestivo: Ari dos Teles. Não li e não sei se gostei.
Eu, quando muito, conto anedotas de pai. E de tio, como no caso acima. Caio no particular, na narratividade, diriam. Mas, ao contrário de Sócrates e de Raí, eu sei disso. Isso: prefiro narrar (a teorizar ou general-izar, por exemplo).


jaó?

jaú?

domingo, 4 de novembro de 2012

O SUCESSO DA EDUCAÇÃO



EaD devia ser apenas Ensino à Distância
Em toda a história do comércio, quantas vendas já foram efetuadas? Resposta rápida e simples: a mesma quantidade de vendas. Ora, se, segundo a prática contábil, há uma equivalência absoluta entre crédito e débito, então, a cada venda corresponde uma compra. Nem mais, nem menos. E esse é um processo simultâneo, como no ímã e no raio/trovão.
No campo da educação, a coisa é bem diferente: pode haver ensino sem aprendizagem. Se isso já é comum na sala de aula, pior ainda é o retorno e o reforço nos esquemas à distância, pelo correio ou pela internet.
Ora, se o processo completo da Educação envolve ensino & aprendizagem, o esquema precário da EaD só pode significar Ensino à Distância e nunca – ou pelo menos nem sempre – Educação à Distância.
E este parece ser também um bom exemplo de esquemas e estruturas elementares, que funcionam no mercado, mas não na sociedade – âmbito mais complexo e mais amplo.

O SUCESSO DOS PROFESSORES E DA EDUCAÇÃO
Há muito texto sentimental e muita lamentação correndo por esta rede, em torno do assunto educação e da categoria profissional professor.
Comigo não, gavião. Neste blog já publicamos tabelas salariais de escolas federais, estaduais e municipais. E também comparamos os ganhos da carreira de professor com outras atividades, tipo vender caldo de cana ou alugar apartamentos. O intuito é dizer a verdade e animar os estudantes, para que venham a seguir a carreira docente.
Pois, então.  Hoje queremos falar de professores de sucesso na política. E da aprovação de uma correta política de educação.
O próximo prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado, é professor. E me orgulho dele, que foi meu aluno na UFU. Não se trata de procurar alguma influência pontual. Não se trata disso; mais interessante é reconhecer que participamos do mesmo e grandioso movimento histórico que incluiu a luta contra a ditadura, para restabelecer direitos dos trabalhadores e para implantar a educação pública e de qualidade. Gilmar foi militante do movimento sindical dos professores em Minas Gerais. E foi eleito, sobretudo para seus primeiros mandatos, por professores e alunos. Depois, sua plataforma cresceu para outras lutas, mas devemos ver nele ainda o professor Gilmar. Viram a força da categoria?
O outro candidato em Uberlândia, no campo mais à esquerda de Gilmar, é também professor: Gilberto, vulgo Bode, do PSTU. Já estivemos juntos em algumas lutas e passeatas. Na agenda do candidato Gilberto, quase sempre constava: aulas em Catalão e/ou aulas em São Joaquim da Barra. Um dia, espero entrevistar Gilberto sobre essa sua cansativa perambulação por três estados toda semana.
Gilmar e Gilberto, dois professores... de história. Isso faz muito sentido.
E, por fim, o futuro prefeito da cidade de São Paulo: Fernando Haddad é professor e tem doutorado em filosofia. Conduziu o mega-ministério da Educação, na era Lula & Dilma, quando, finalmente, o ensino público nas Universidades Federais implanta um projeto ambicioso e bem sucedido de expansão, com verbas crescentes. O orçamento da UFU para 2012 tem mais de um bilhão de reais.
Haddad sofreu uma campanha terrível por parte da imprensa (e certamente do lobby das escolas particulares e cursinhos), sobretudo por causa do ENEM. Ontem e hoje, neste início de novembro, seis milhões de jovens em todo o país participam dessa prova, o Exame Nacional do Ensino Médio. Em breve, esperamos que os problemas de logística e de segurança sejam resolvidos, assim como a urna eletrônica já superou críticos e panes.
E aqui vai a opinião de um professor, depois de 33 anos na UFU: era triste ver cadeiras vazias na sala de aula, com vagas que não eram preenchidas. Agora, com o ENEM, será possível não apenas ampliar as vagas e melhorar o ensino, mas também aumentar a quantidade de cadeiras ocupadas e de alunos formados. E esse é o duplo sentido de “sucesso escolar”. Queremos que a universidade pública cresça e que jovens animados venham buscar em nossas escolas diploma e saber e formação crítica e muito mais.
E para aqueles e aquelas que pensam em seguir a carreira do magistério, o lembrete: professores também tem prestígio e influência na vida política no país democrático Brasil.

ENQUANTO ISSO, NOS EUA DE OBAMA E ROMNEY
A corrida presidencial no país que se acha um exemplo de democracia é... um show. E esse é o problema. O processo de indicação de candidatos, de pesquisas de intenção de voto e tudo mais leva a uma polarização cada vez mais equilibrada entre Democratas e Republicanos. OK. Mas onde estão os demais partidos? Não existe comunista nos EUA? Não há liberais in the USA?
Em uma minúscula notinha de jornal, ficamos por acaso sabendo que sim: há partidos pequenos além das siglas que tem um elefante e um burro como mascotes. E os “nanicos” são apresentados pela imprensa, quando muito, como uma curiosidade, uma última linha de uma enquete que não atinge 1% de intenção de voto. Ou nem isso.
E a plataforma dos “nanicos” é estranha? É folclórica? Nem tanto. Vejam que uma das bandeiras desses pequenos partidos ignorados ao norte de nossa América é... educação superior pública (e gratuita).
Que país é aquele, que quase não tem transporte público, nem saúde pública e nem universidade pública? São os EUA de Obama e/ou Romney, o paraíso da exploração capitalista local e remota.
Pensando bem, estamos muito mais adiantados  no Brasil em vários pontos. Ao contrário do que muitos dizem, o Brasil vai bem e nesse caso da educação superior, estamos em melhor situação quando se trata de acesso e permanência. Quanto à qualidade, também estamos melhorando. E essa melhora depende de cada professor e de cada estudante, que deve, sobretudo, estudar. Seja no Brasil, seja no exterior, onde estão hoje mais de 20.000 bolsistas.



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

NINGUÉM EDUCA NINGUÉM

First of all,
quero agradecer aqui o presente que o colega Professsor Alcino me trouxe da Inglaterra: este livro.

A família Brontë nos arrepiava com os ventos uivantes, também na voz aguda de Kate Bush:

"Out On the wiley, windy moors / We'd roll and fall in green /
You had a temper, like my jealousy /Too hot, too greedy ..."
O colega achou que eu ia gostar. E creio que vou mesmo. Com essa trama aí me vejo de novo em sala de aula, de onde vou em breve me afastar. Aliás, este 15 de outubro será minha derradeira chance de comemorar a dita data "Dia dos Professores", antes que eu saia da "ativa" - ou seja, como cantava um ídolo ye-ye-ye: "eu vou parar de lecionar". Mas sempre serei um professor, talvez the professor.
Plot introduction
The book is the story of a young man, William Crimsworth, and is a first-person narrative from his perspective. It describes his maturation, his loves and his eventual career as a professor at an all-girls school. (Hummm... nada mal in those old good times.)
O MUNDO, ONDE AS PESSOAS SE EDUCAM.

Notas de recentes viagens minhas:
“Na volta, 2 horas e 50 minutos, ou seja, abaixo do previsto. E, com carteira de teacher, um pouco de cara de pau, pagamos 8 pesos (e não os 30 para estrangeiros). Por sorte, o rapaz da bilheteria do parque admira Paulo Freire e conhece as duras condições dos professores. E saiu do guichê para apertar minha mão. E disse que eu devia me orgulhar de haver conhecido o grande educador.(...)”
Essa cena teve, sim, certa emoção. Fãs de carteirinha do grande educador. Inclusive recitamos juntos uma frase central da Pedagogia do Oprimido, que eu lia em italiano no tempo da ditadura no Brasil, onde a edição fora proibida:
 "Nessuno educa nessuno, nessuno si educa da solo, gli uomini si educano insieme, con la mediazione del mondo".

Del mondo... inclusive del mondo cane,
pois anda perigoso ser professor
e talvez seja bom levar também uma
carteirinha de jiu-jitsu, UFC and the like.

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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Rei Thor

EU? MIRO....




O candidato Elmiro Santos Resende, da chapa “Ética, Autonomia e Compromisso Democrático”, foi o vencedor do segundo turno da Consulta Eleitoral para a reitora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) para o quadriênio 2013-2016, realizada na quarta (26) e quinta-feira (27) nos campi de Uberlândia, Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas. Elmiro Resende e o vice, Eduardo Nunes Guimarães, tiveram 55,14% do total de votos, contra 44,86% da chapa concorrente, “UFU sem Fronteiras – a mudança continua”, que tinha o atual reitor Alfredo Julio Fernandes Neto tentando a reeleição e Darizon Alves de Andrade como vice.

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(Notícia quentinha, no Correio de Udi - 11:11 de 28/09/12)

sábado, 15 de setembro de 2012

DE AULA NÃO ME LIVRO - NOTÍCIAS




E tem aquela outra daquele professor escaldado, que já premeditava o breque. Ele queria um arremate, uma saída apoteótica. E ficava fuçando em uma frase de efeito, talvez para seu discurso de aposentadoria, se é que alguém ia querer ouvir despedidas. Tinha que ter três partes. A terceira frase, o fecho de ouro, era a mais difícil. Por muito tempo ficou com esse esboço:
"Eu já me libertei de meus professores.
Em breve vou me afastar de meus alunos.
Mas sei que nunca..."

Ah! Um dia achou a conclusão bombástica e completou, elevando o tom de voz,
pois frases de efeito são feitas para vociferar em palanque, pra ecoar em igreja barroca.

"...mas nunca vou me livrar de minha ignorância!"

Esse murro na mesa não durou muito, não teve eco.
Pois justamente nessa época, da frase feita, que o professor de meia idade resolveu fazer uma ginástica de acordo,  em academia e paga em dinheiro suado. Lá foi desenferrujar as juntas e começou pelo alongamento dos tendões maltratados pelo apagador de giz e demais cacoetes do ofício.

Voando baixinho, escolhia os halteres mais pela cor que pelo peso e criava mil desculpas para sua relativa falta de força. Tipo assim, o mestre voltou a ser aluno? Olha só. E pronto para errar e pagar mico, tipo deixar cair uma barra de dez quilos na própria cabeça, errar um daqueles setenta exercícios diferentes, etc.

E, no que tange a nossa frase de efeito, abandonou mais essa bobeira, pois... logo viu que voltara a ter professor. Na academia de ginástica, pra ficar fit, tinha e tem diversos instrutores, formados em Educação Física. Vamos educar essa metade, pois que o espírito está bien gordito, cevado e preguiçoso.

Quando os instrutores estão a serviço de todos os levantadores de peso, usam uma camiseta com a palavra "PROFESSOR", nas costas. Se mudam de camisa e continuam ali, por perto de um freqüentador das esteiras, então atuam na função de "personal trainer". Sentidos interessantes para a velha profissão e a nova humildade.


Conan, o pensador, rumo a 2016

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AULA!

Seguinte, caras alunas da Pedagogia: saiu o calendário da UFU, depois de 123 dias de greve, tipo dia "D", o mais longo dos dias. Fim da greve. Aulas dia 17 de setembro, segunda-feira. Tá certo, vamos lá. Nós completamos a carga horária em junho - um caso de adesão parcial, para usar uma expressão menos braba... Então, a rigor, só teremos aula no final de novembro, quando começa o segundo semestre. Estranho, não?

Há, sim, uma dúvida sobre minha permanência com a disciplina, pois eu estava substituindo uma professora, que ficara de resguardo. Com essa demorada greve, ela já comeu sopa de 150 galinhas e... talvez volte, para assumir a tchurma... Vou conversar com o Diretor do IFILO, meu chefe, ainda esta semana. Aí combino por email uma visita às distintas alunas da Pedagogia, na sexta (é esse nosso dia, não era?) Muitas alunas até já se esqueceram de mim e da matéria... Normal. Vou me apresentar de novo: meu nome é tal, nasci em Tupaciguara, no século XX, etc.

Até breve. Bom domingo.

Para os leitores que não são alunas dessa turma, digo: que bom que continuaram lendo este recado, pois a curiosity agora é nome de jipe marciano... E em breve voltaremos com anedotas e reflexões pedagógicas de amplo alcance e prazo de validade infinito, tipo sal que não perde sua força e ímã que não se esquece de atrair (e repelir).




quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PROFESSOR GANHA MAIS DE VINTE MIL


Caras alunos da Pedagogia e leitores do mundo inteiro, olá!

Sim, estamos de volta, com essa manchete, em cima da hora. E tinha que ser hoje. 

"Professor novato ganha 23.090,00"


Por extenso, pra não dar confusão:
vinte e três mil e noventa cruzeiros por mês.

O mês era agosto. E ano? Mil novecentos e setenta e nove, por extenso (ou:1979). E a moeda? Cruzeiros, antes dos cruzeiros novos e da República Nova, da saudade do Sarney.

Sim, estamos de volta e de cara pedimos
 desculpas pela pegadinha.


Mas não nos foi possível resistir: houve uma época em que um professor universitário principiante, sem mestrado, ganhava vinte milhas. Não me perguntem o quanto isso era em dólares. Mas era bem mais do que se ganhava correndo de motoca entre dois cursinhos, na base do grito e da apostila. Da água para o vinho, com chances de melhorar.

É MUITA ESTRADA. VAMOS ADMITIR.

Então, essa é a maneira de marcar a data: neste 1º de agosto, este professor completa 33 anos na firma, de carteira assinada e tudo.
AGRADECEMOS AO CAFÉ CAJUBÁ,
POIS FORAM MILHÕES DE NOITES
EM CIMA DE LIVROS, TESES E PROVAS.

(E AO DMAE, TAMBÉM, POIS A RECEITA LEVA ÁGUA. ADOCE A GOSTO.)

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Pelo menos cronologicamente, antes de ser filósofo, foi professor. Teve que ser professor, trabalhar, ganhar seu pão com manteiga. E a filosofia, destilada e curtida na demora, é antes de tudo trabalho - no caso, assalariado. E naqueles tempos de inflação alta, uma década depois, chegávamos a ter reajustes salariais mensais. Com isso, era preciso tirar uma segunda via da Carteira, faltava espaço para carimbos. Mas, depois, com o Regime Jurídico Único, a CTPS virou um documento histórico, na gaveta, esperando a contagem de tempo. E é bacana ter uma. Saudades do Getúlio, de repente.  

Agora a imprensa anda querendo mostrar salário de deputado e de funcionários públicos em geral. No nosso caso, é fácil. Entrem no curriculum lattes, no site do CNPq, pra ver qual o regime de trabalho do professor, tipo "professor adjunto IV". Aí, entrem no site do MEC e/ou do sindicato nacional dos professores, o Andes-SN - pra ver na tabela quanto ganha cada categoria e cada nível. E quanto quer a categoria ganhar.

Tempos depois, eis que vieram os filhos de minhas primeiras alunas. E fui professor da segunda geração. Mas não prometo esperar as netas delas. Vai chegando a hora de parar de lecionar, de encerrar algumas tarefas nessa vida de empregado, com 39 anos de contribuição á Previdência, fora o tempo de trabalho informal, infantil.



Preciso localizar uma passagem na autobiografia de Popper. Algo mais ou menos assim: "...foi só então, ao me aposentar, que pude me tornar um filósofo de verdade". Claro, numa cadeira de balanço e com um título outorgado por sua majestade, que quase não trabalha. Mal declara a rainha abertos os jogos olímpicos de London 2012. E vejam que o Paul McCartney já não consegue dar aquelas notas de Hey Jude. Se fosse professor, já estaria confundindo os diários e as salas. Antes de caiar no palco, get back Loretta.

Enfim, era só isso. Chegou o dia do ano cabalístico 33. E isso significa mistério, enigma, sorte. Um sinal, para o procedimento de desaceleração, já iniciado. Alô, Houston, não temos um problema. Digo trinta e três: 33. E nisso me ufano da UFU. Em breve, zarpando, direi "fui".

Tipo Kerouac, tá ligado?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

ALGUNS FILÓSOFOS ESCRAVOS COERENTES

Grupo 9 e professor de "filosofia" na Pedagogia:

Esse grupo fez a última exposição do dossiê "Ensino de Filosofia". Em seguida, na fase online desse semestre, foi pedido um exerício com o texto de Renata Aspis, a partir de três idéias que incomodam e, de fato, provocaram o debate e a crítica do professor.
Para dramatizar um pouco e motivar as alunas, disse o funcionário público: vocês também poderiam lecionar filosofia, eu não quero ser coerente e não sou escravo!

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Quem quiser ler o texto na íntegra tem o endereço ao final deste post.



O PROFESSOR DE FILOSOFIA:
O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO
COMO EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.
Renata Pereira Lima Aspis

O contexto que envolve o ensino de filosofia para jovens, na escola, é complexo. É possível que o professor de filosofia pense: para que defendo a filosofia na escola? O que há de específico na filosofia que a faz necessária no currículo dos jovens? Qual filosofia ensinar? Como fazê-lo? Damos aulas de filosofia ou de filosofar? O que é a filosofia? O que é o filosofar? É possível essa separação das duas coisas? Ora, assim o professor terá começado a pensar filosoficamente o ensino de filosofia e só isso já pode ser um bom começo.

Filosofia ou filosofar
   Uma clássica questão que se levanta sobre a cisão entre filosofia e filosofar, desde Kant, é defender a impossibilidade de ensinar filosofia, sem filosofar. Para ele a filosofia é um saber que está sempre incompleto, está sempre em movimento, sempre aberto, sempre sendo feito e se revendo e por isso não pode ser capturado e ensinado. O ato de filosofar, por sua vez, seria composto de passos conscientes na análise e crítica dos sistemas filosóficos, exercitando o talento da razão, investigando seus princípios em tentativas filosóficas já existentes.
  A isso se contrapõe o exemplo de Hegel ao afirmar que quando se conhece o conteúdo da filosofia não apenas se está aprendendo a filosofar, mas que já se está filosofando propriamente. Daí que para ele não é possível ensinar filosofia sem ensinar a filosofar, assim como não é possível ensinar a filosofar sem ensinar filosofia.
Entre Kant e Hegel: pista livre para briga de cachorro grande

A vocação Formativa
   O ensino de filosofia deve ser produção de filosofia, deve ser filosofar. Isso pode parecer fácil de entender, porém não antes de se perguntar: Ora, mas para que ensinar filosofia para os jovens na escola? Qual o papel formativo da filosofia? Se a colocamos dentro da escola, é para que cumpra uma determinada função na formação da subjetividade do jovem estudante. E que função é essa?
   O justo é educar para oferecer condições para o educando conquistar o pensamento autônomo. O pensamento que conhece suas razões, que escolhe seus critérios, que é responsável, consciente de seus procedimentos e consequências e aberto a se corrigir. Pensamento criativo, capaz de rir de si mesmo, buscador de compreensão, sempre atento ao seu tamanho justo. Afirmamos que o ensino de filosofia como experiência filosófica pode desenvolver esse pensamento.

Experiência filosófica
   A aula de filosofia tem que ser uma experiência filosófica, dentro dessa ideia está a construção do aluno, criativamente por ele mesmo e também pelo professor. Mas Como fazer isso? Como passar por uma experiência filosófica? Exatamente como os filósofos fazem. Tudo deve partir das questões levantadas pelos próprios alunos, a filosofia surge como tentativa de elaboração de saídas para os problemas concretos.
   As aulas de filosófica como lugar da experiência filosófica, têm como objetivo oferecer critérios filosóficos para os alunos julgarem a realidade por meio da prática do questionamento filosófico e da construção de conceitos.

O professor de filosofia deve ser filósofo
   O professor de filosofia deve ser um filósofo, pois as aulas de filosofia são aulas de filosofar, elas são produção de filosofia. Nas aulas o professor não professa, não apregoa, não é depositário de verdades, ele é um super-herói às avessas: ele cria problemas, mas também é ele quem vai orientar sua solução.
   O professor vai ensinar a pensar filosoficamente, a organizar perguntas num problema filosófico, ler e escrever filosoficamente, a investigar e dialogar filosoficamente, avaliar filosoficamente, criar saídas filosóficas para o problema investigado. E vai ensinar tudo isso na prática e sem dar formulas a serem apenas reproduzidas. Durante suas aulas o professor também estará sendo formado.
Vender o peixe, mas não no grito.


O professor de filosofia é modelo
   O professor de filosofia tem que ser coerente com sua maneira de orientar o pensamento dos alunos, não deve haver um descompasso entre o que ele fala e faz. O professor de filosofia quer que o aluno seja ele mesmo, pois o aluno tem que ter o desejo de buscar o conhecimento. Quando o professor dá aula ele também vira um aprendiz.
   Nietzsche considera o professor de filosofia com um servo filosófico, pois o professor é escolhido e obrigado a submeter-se a atividades e horários predeterminados para pensar em público sobre coisas também predeterminadas. Ele tem o papel de orientar um grupo que estuda e investiga além de ter papel de provocar os alunos para que tenham ideias.




Aulas de Filosofia: espaço de criação
   Dizer que o professor produz filosofia em sala de aula não significa afirmar que ele faça isso apenas lá, ele pode desenvolver seu trabalho filosófico na universidade ou fora dela. Podendo haver assim um diálogo entre essas duas facetas, ensino e pesquisa desembocando numa só atividade de forma que um enriqueça a outra.
   As aulas de filosofia são lugar de estudo e produção filosófica, nela cada dia surge o novo, pois essas aulas são um espaço criação.
Poder pode ser só isso: um carimbo que dá permissão limitada.


Ensino filosófico de filosofia e poder
Quando organizamos pensamentos e ideias, estamos exercitamos o ato de filosofar. O aluno pode se submeter as vontades do mestre  e nunca jamais a sua inteligência no ato de ensinar e aprender existem duas vontades e duas inteligências .O papel do professor é orientar os alunos dando a eles espaço para o desenvolvimento autônomo de cada individuo, contribuindo com a formação de subjetividade original de cada aluno educando o outro para ser o outro.

Sendo o professor um pensador filosófico ele escolhe critérios, seleciona conteúdo, usa estratégias e instrumentos para programar seu curso, buscando conhecer a realidade da sala de aula e de seus alunos dando a cada um o poder de aprender filosofia, organizando as ideias e os pensamentos para a prática do ato de filosofar. Por isso não podemos separar filosofia do ato de filosofar, cada indivíduo busca dentro de si a vontade de expor novas ideias, novos pensamentos, buscando uma compreensão, uma saída,  na formação de um processo que esta sempre se formando, em busca de novos rumos e construindo um pensamento individual  e autônomo do mundo para o mundo.

Sai dessa. E entra em outro labirinto do J. L. Borges,
a biblioteca.


Texto integral no endereço a seguir:


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Alunas: Alexandrina de Fátima da Costa
              Isabella Ferreira Soares Santos
              Luana Xavier Mendes
              Thaís Ferreira Rocha

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Filosofar é fazer o que os filósofos fazem


O blog do Pippe Show está orgulhosamente a vos apresentar
este que deve ser o penúltimo episódio do dossiê "Ensino de filosofia"

Aí tem os Senhores e Senhoras um roteiro de leitura preparado pelas alunas da pedagogia e depois recortado pelo professor, que não quer incentivar resumos nem apostilas. Desde já anexamos aqui o endereço para leitura do texto na íntegra e sem custos financeiros:


O Prof. Desidério era professor da Federal de Ouro Preto
quando escreveu este artigo, mas sabe-se lá se virou um PhD alhures...



A NATUREZA DA FILOSOFIA E O SEU ENSINO
Desidério Murcho
O português Desidério acerta na boa redundância:
filosofar é fazer o que os filósofos fazem

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A natureza da filosofia levanta dificuldades no modo em que ela é lecionada no Brasil. E esse ensino costuma  negar a natureza aberta e especulativa da filosofia.
As três idéias principais desse artigo:
1)      compreender a natureza aberta e especulativa da filosofia;
2)      distinguir cuidadosamente as competências estritamente filosóficas (diferentes da mera  “informação histórica”);
3)       a leitura filosófica ativa dos textos dos filósofos.

A filosofia se diferencia das demais disciplinas por apresentar poucos resultados consensuais; a maioria dos problemas centrais da filosofia continuam em aberto. E esta afirmação é contraposta por três pontos: não significa que não há resultados; não significa que não há alguns resultados consensuais em filosofia; não é necessariamente o inicio de um elogio ao permanente “questionamento” sem rumo.
Desidério está nessa briga faz tempo:
e vamos eliminar alguns atravessadores!

Parece que afirmar que a filosofia é uma disciplina em aberto, sem resultados substanciais consensuais é uma forma de denegri-la (sic!) [...e avisamos ao colega português: evite o verbo “denegrir”, em desuso, por respeito aos valores étnicos e mestiços, etc.]

Ora, as instituições de ensino estão direcionadas a transmitir o conhecimento já pronto, priorizando os resultados consensuais.

Entramos então em discussão com o “cientismo”, este pode ser definido pela solidez acadêmica de uma dada área de estudos com a qualidade de resultados substancias que esta área produz. O “cientismo” manifesta-se na ideia de que ou a filosofia priorize metodologias que garantam resultados substanciais ou então a mesma tem que ser abandonada. [seguem-se informações históricas]

A filosofia não é um pensamento empírico; é um pensamento a priori, ou seja, não usamos laboratórios, estatísticas, observação telescópica ou microscópica como as demais disciplinas, sendo assim é feita pelo pensamento e tem caráter eminentemente conceptual.
Outro livro com o nome de Desidério na capa:
ele organizou esse junto ao Centro para o Ensino da Filosofia, que é uma unidade da Sociedade Portuguesa de Filosofia formada por professores e investigadores apostados na qualidade do ensino da disciplina. Fundado em Julho de 2000, o Centro tem participado activamente na discussão da reforma dos curricula, nomeadamente com o Ministério da Educação, e publicou já três livros, cumprindo assim o objectivo que consta dos seus estatutos: “o aperfeiçoamento e dignificação do ensino da Filosofia em Portugal”.

O objetivo do ensino genuinamente filosófico da filosofia é ensinar a filosofar, e daí é preciso ensinar a ler os textos filosóficos ativa e filosoficamente.  Só há filosofia se questionarmos as ideias, os argumentos dos grandes filósofos.
Devemos encarar com maturidade que um estudante de filosofia filosofe. Poderá ser incapaz de ser um filósofo de marcada originalidade, mas se é um estudante de filosofia tem que saber filosofar. Filosofar não é fazer relatórios mais ou menos acadêmicos sobre o que os filósofos pensam.
Filosofar é fazer o que os filósofos fazem. E compete-nos a nós ensinar os estudantes a fazer isso. O que significa que temos também de aprender humildemente a fazê-lo porque muitas vezes ninguém nos ensinou tal coisa.
Sorte de Ouro Preto ter lá o Desidério,
mas ele sempre esteve para o mundo todo
nas redes de discussão, desde pelo menos 1997,
quando nosso aluno Kuntz já trocava figurinhas com
o colega português.
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Grupo 3: Amanda, Sílvia, Sandra e Vanessa.

O grupo 3 prefere não expor sua foto,
mas se mudarem de idéia, caras alunas, a moldura já está
aqui esperando uma imagem.