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terça-feira, 6 de março de 2012

PROFESSOR SE SENTE UM RAPAZINHO DE 22 ANOS

Nota do editor: conforme cogitara este professor blogueiro, o PIPE continuará sem SHOW com novo elenco - ele e umas quarenta mulheres, as alunas da Pedagogia. Uau! Calma, galera. Pega leve, que vou de tiozão... Por enquanto, só texto, em dois capítulos. Depois voltaremos para editar isso aqui, com alguma imagem e um pouco de graça. Assim, será mantido o espaço - com crescente público e lista de seguidores, esperamos - para reflexões ou pelo menos impressões ligadas a essa prática de professor que já vai para uns 35 anos... Já estão chegando aí as filhas das filhas das minhas primeiras alunas. Benza Deus!
DE VOLTA À PEDAGOGIA
Disciplina GFI172 – Filosofia matutina
Aula 1 - dia 2 de março de 2012
PARTE I (para quem perdeu a primeira aula ou quer organizar informações)
Nem todas as aulas merecerão um relatório. A primeira, sim, precisa disso, pois nem todas as alunas estiveram na sala do 3Q naquela sexta-feira. Algumas chegaram de madrugada, ou seja, as 7:10. Eu já sabia, ao ler a lista, que teria uma turma só de mulheres. Isso é uma beleza, pois ao formar frases poderei dispensar o gênero gramatical masculino; direi: vocês estão convidadas, empolgadas, informadas, etc.
Primeiro dia de aula, professor vem com muita conversa fiada. E somos bons nisso: misturar informação relevante no meio de anedotas. E já lancei algumas teses e propósitos para a disciplina “Filosofia”, que ministrarei no curso de pedagogia. Eu, o ministro? Ou ministrante? E pensar que outros filósofos já ficaram conhecidos como “magister”! Passamos de mais para menos. Ok.  Então, nada de ministrar aulas; trata-se de dar aulas. Sim, dar e não vender, conforme brincava nosso colega de república, o Geraldinho, pois trata-se de uma universidade pública e gratuita, etc.

Cada aluna falou um pouco sobre si: se fez ou quis fazer outro curso superior, se trabalha, se tem tempo para ler. Nessa prosa, tirei uma média e atualizei minha impressão sobre o “perfil do alunado”, pois as convicções mudam após três décadas, bem como a natureza do trabalho. Em 1979, não havia telemarketing e nem “escolas” da prefeitura municipal para crianças de... quatro meses de idade. Sim, pois não são creches e as mães nem sempre trabalham. Aprendo bastante sobre o novo “conceito” de educação adotado em Uberlândia (e ainda nem sonhado na Suíça, parece). E aviso que essa é uma das ocupações prediletas do filósofo: o conceito (que só interessa enquanto história do conceito, etc.)

Brinco com a rara composição da turma: só mulheres. E, sem nenhum assanhamento hoje, digo que me sinto um rapaz de vinte e dois anos. E logo explico: é que em 79 fui professor de redação em um cursinho. Eram duzentas moças em uma sala. E eu ao microfone fazendo piadinhas. Enquanto isso, os rapazes estavam na quadra, horário de educação física. Depois, o troco: duzentos marmanjos na aula de redação e eu esgoelando para manter a atenção. E um bedel me vigiando, pois tinha que seguir a apostila. Coisas do tempo da ditadura, em escola dirigida por um delegado de polícia... Sim, a história da educação inclui as histórias pessoais. Logo pedi as contas e dei sorte: vim para a UFU, onde sempre me senti bem.

Em 1979, comecei a trabalhar na UFU e fiquei “lotado” no grande departamento de Pedagogia. Tínhamos lá uma equipe de Filosofia e outra de Metodologia da Pesquisa.  Depois de inúmeras reuniões, as “pedagogas” resolveram se separar (ou, conforme a retórica adequada de então, “redimensionar a unidade acadêmica”). Criaram um departamento de fundamentos da educação e outro de práticas. Um escândalo para quem antes apostava na unidade entre teoria e práxis. Mas, deixa quieto, pois o sistema segue sua dinâmica, etc.
E, embora, a filosofia pudesse ser encarada como um dos fundamentos da educação, nós, os professores de metodologia e de filosofia, aproveitamos a deixa, a porta aberta por nós todos, e resolvemos criar nosso próprio departamento de filosofia. Deu certo. Foi em 1987. De início, continuamos a oferecer disciplinas a quase todos os cursos da UFU. E logo montamos alguns cursos de especialização – um dos primeiros foi sobre o liberalismo.
Depois de implantado o curso de graduação em filosofia, em 1993 ou 94, afastei-me da área da educação. Nos anos 80, eu era mais entrosado com a temática, os autores da pedagogia crítica. Tivemos, aliás, uma rara oportunidade na UFU: a pedagogia montou um curso de especialização com os intelectuais exilados, que voltavam ao país, no governo Figueiredo. Gadotti, Jamil Cury, Miguel Paiva, Jeferson Ildefonso, Sanfelice, Afonso da Cunha e outros, que nos muniam de ferramentas para a crítica ideológica da escola reprodutivista.
Meus contatos com a educação foram diminuindo. E minha biblioteca foi desfalcada quando emprestei duzentos livros – quase todos de educação – a uma faculdade particular por aí. O novo dono do negócio bateu um carimbo de “doação” e... adeus. Já estive em banca de qualificação na pós da FACED  e publiquei pelo menos uma resenha e um artigo, em parceria com dois colegas, que poderemos adotar nesta disciplina, sobre educação em Habermas, filósofo alemão que conheço bem e ajudo a divulgar e criticar.
Voltando à história recente da UFU, em 2007, a filosofia passou a oferecer mestrado e, recentemente criou o turno matutino na graduação – e agora somos um Instituto, o IFILO.
Há alguns anos os dois departamentos de educação se reagruparam para formar a poderosa FACED, que hoje tem mestrado, doutorado e uma respeitável linha de pesquisa. Por fim, veio o curso de jornalismo, assumido por essa faculdade da UFU.
Uma cria dos tempos da pedagogia permanece com as duas áreas: a revista Educação e filosofia. Lembrei dos bastidores da criação desse periódico, do esforço do colega Prof. Geraldo Inácio, de minha atuação por tantos anos lá em várias funções e do sucesso da revista, hoje uma das melhores do país. (E logo vi que terei que trazer uns exemplares, pois nem todas as alunas sabem exatamente o que é essa importante revista acadêmica).

Na hora das perguntas, uma preocupação bem básica das alunas: se eu ficaria até o final do semestre. Resposta: sim, “se Deus me der vida e saúde”. Na verdade, eu me ofereci para assumir a disciplina em lugar de uma colega de departamento que pediu licença-maternidade. Mas venho de bom grado e pronto para cumprir a carga-horária e para deixar uma boa impressão – uma amostra – da filosofia. E o momento é bom: as alunas estão no terceiro ano, ou seja, já têm uma certa base teórica e ainda não estão afobadas com as monografias de fim de curso e a preparação para seleção de pós.

(to be continued - God be served...)

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